São fascinantes as antigas catedrais, imponentes, plenas de história e de estórias, cheias de vidas e de mortos. Construções supremas, provas de fé e tentativas de superação do efémero. Muitas demoraram centenas de anos a serem construídas, aqueles que as iniciaram sabiam bem que não iriam viver para ver a sua obra concluída. É puro amor pelo próximo, iniciar aquilo que sabemos que nunca iremos ver.
Nesta civilização do retorno imediato, talvez seja algo difícil de compreender.
Assim são outras coisas pelas quais lutamos e sabemos que não vão ser concluídas no nosso tempo, talvez no dos nossos filhos (os que os têm) ou pelo menos agimos de acordo com a nossa consciência a busca incessante de um mundo melhor, mais justo, mais fraterno.
Anda comigo ver o mar, que é a única coisa que conheço tão revolta como o meu coração. Anda comigo ver o mar, que atira as vagas enormes do seu corpo líquido contra os rochedos até que se desfaçam em espuma, sem um queixume - como eu. Anda comigo ver os azuis do mar em todos os entardeceres de veludo que ainda nos faltam e escuta com as mãos entre as minhas a canção das ondas - selvagem, sofrida, serena e silenciosa.
Oh ! Insónia desmedida do meu tormento, meu cérebro em tuas mãos se definha, não há noite em que tu vil assassina, não condenes a vigília meu sono em sofrimento.
Eu e a árvore e a beleza da nudez fria dos dias de inverno e a teia emaranhada da vida, que teimosa está à espreita...em sagrados becos abandonados.
Entre um ontem, já distante e um amanhã ainda longínquo, há um tempo indefinido que o relógio vai marcando, num compasso de esperança, por onde vai caminhando a vida.