- Claro que sim. Deve existir alguma coisa depois do parto. Talvez estejamos aqui porque precisamos de nos preparar para o que seremos mais tarde.
- Maluquices! Não há vida depois do parto. Como seria essa vida?
- Não sei, mas de certeza que… deve haver mais luz do que aqui. Talvez caminhemos pelos nossos pés e nos alimentemos pela boca…
- Isso é absurdo! É impossível caminhar. E, comer pela boca? Isso é ridículo! O cordão umbilical é a única forma de nos alimentarmos. E digo-te mais: a vida depois do parto não existe… O cordão umbilical é demasiado curto…
- Pois, eu acredito que deve haver mais alguma coisa. Deve ser apenas um pouco diferente daquilo a que estamos agora habituadas.
- Mas ninguém voltou do além, do pós-parto. O parto é o final da vida. E no fim de contas, a vida não é mais do que uma angustiosa existência na escuridão que não leva a nada.
- Bom,… eu não sei exactamente como será depois do parto, mas de certeza que veremos a nossa mamã e ela cuidará de nós.
- Mamã? Tu acreditas na mamã? Onde é que ela está?
-Onde? À nossa volta. É nela e através dela que vivemos. Sem ela não existiríamos.
- Pois, eu não acredito! Nunca viste a mamã, … por isso, é lógico que ela não existe.
- Mas, … às vezes, no silêncio, podes ouvi-la a cantar ou senti-la quando acaricia o nosso mundo. Sabes…? Penso que deve haver uma vida real que está à nossa espera, e que agora estamos apenas a prepararmo-nos para ela.
Abri os comentários, tal não significa que tenha a capacidade imediata de responder. Estou a passar por um esgotamento e há dias que são difíceis...
Já vos tinha falado das flores que falam de vida. Deixo estas.
Vi as aves, acompanhei-lhes o voo. Sentada numa pedra, segui o curso de uma garça e vi as nuvens reflectidas nas águas. Ouvi música tentando colar-lhe palavras, mas os olhos humedeciam e a saudade vinha em voo rasante como o do corvo negro que por mim passou.
No fim do dia, de novo as nuvens e o sussurro do vento e o murmúrio das ondas. O tempo é um grande gerúndio. Está cheio de palavras cansadas como resiliência, cuidado, vírus, covid, confinar. Com pouca esperança nem sentido, nem desejo, nem projectos para além de ansiar pela palavra fim.
O tempo e a maturação na vida se encarregam de dar todas as repostas certas. Eu podia ter agido dentro da lei e nem sequer me preocupar com as consequências para a pessoa que podiam chegar ao despedimento.
Mas sou humana e não pretendo isso. Acho que o universo se encarrega de encontrar a forma certa de resolver o assunto.
Quis escrever este pequeno texto para nunca esquecer o passado dia 16 e a gravidade dos factos que sofri.(Não, não se tratou de uma brincadeira de carnaval). Tratou-se de uma invasão de privacidade punida pela lei, desde um processo disciplinar a despedimento.
Serve de alerta que quando julgamos ter uma amiga(o) vejam bem se são a pessoa que pensam, para não vos surpreender...
Nota: Peço desculpa, mas estou bastante doente, por uns tempos fechei os comentários.Se precisarem têm sempre o meu email disponível : olhosqueleem@sapo.pt