meio metro
na ressaca do descontrolo existencial
comprometo-me com desígnios escorregadios,
guardo então só para mim
as falácias duma noite de corpo sem fundo
encaro a varanda de meio metro de largura
e conjeturo o infinito das ruas largas
sem espaço para o meu choro.
no retrocesso da certeza vespertina
volto pé ante pé alimentando a dúvida
e contrariando o que é simples,
nos sonhos que me esqueço de sonhar
domina a secura na boca
e o amargo na consciência,
fazendo crer que de olhos semicerrados
consigo entender a lucidez.
talvez noutro dia venha a alcançar o ímpeto
que me permita ser.
Nuno Casimiro (autor do blog beiradalua.blogs.sapo.pt)
do seu livro "Não sei dizer como procuro ser noite"